Tocantins: governador afastado é suspeito de esquema milionário envolvendo cestas básicas
Fantástico revela detalhes exclusivos da investigação que afastou o governador do Tocantins.
O governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa Castro, foi temporariamente afastado do comando do estado por seis meses pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele é suspeito de chefiar um esquema milionário de corrupção que teria começado em 2020, durante a pandemia de COVID-19.
Segundo Mauro Campbell, ministro do STJ, Wanderley Castro "transformou o governo do estado de Tocantins em um verdadeiro balcão de negócios". O grupo é investigado por corrupção, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro. A polícia acredita que, somente com as fraudes envolvendo as cestas básicas, o grupo tenha desviado R$ 73 milhões.
O esquema de corrupção teria começado em quando Wanderlei Barbosa era vice-governador. Na época, ele chefiava a distribuição de cestas básicas na Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas). Segundo a PF, foi montado um núcleo de empresários com empresas de fachada, ou em nome de laranjas, para simular a prestação de serviços não realizados.
O empresário Paulo César Lustosa, apontado como um dos principais operadores do grupo e responsável pela coordenação das fraudes, aparece em áudios obtidos pelo Fantástico.
Em um trecho, ele diz: "Nós é que vamos administrar os recursos dessas emendas". Em outro, sugere que o dinheiro desviado seria dividido: "e o que sobrar a gente racha".
Cestas eram entregues várias vezes
A mesma cesta básica era utilizada "duas, três, mais de dez vezes" para tentar comprovar entregas fictícias aos fiscais. Em um áudio, Wilton Rosa Pires, irmão de Paulo César Lustosa e funcionário da Secretaria de Meio Ambiente, explicou que usava cestas "emprestadas" de um mercado para enganar a fiscalização da Setas. "Depois, colocar novamente a cesta no carro e entregar lá, que ela é emprestada, né?", diz Wilton no áudio.
Wanderlei Barbosa se tornou governador em outubro de 2021, em substituição a Mauro Carlesse, que também havia sido afastado por suspeita de corrupção. O caso das cestas básicas já estava em investigação.
Segundo a polícia, o grupo montou um segundo esquema: cobrança de propina para antecipar pagamentos devidos pelo governo a empresários.
Wilton Rosa Pires e Maria do Socorro Guimarães, a Bispa Socorro, eram os principais captadores do esquema de propinas. Nas conversas, PC Lustosa pedia para que seu nome não fosse mencionado, com receio de que "nego chega na Karynne". Karynne Sotero, ex-mulher de PC Lustosa, é a atual esposa de Wanderlei e foi nomeada secretária extraordinária de participações sociais em 2023.
A PF suspeita de lavagem de dinheiro usando a construção da Pousada Pedra Canga, na Serra de Taquaruçu, em nome dos filhos de Wanderlei Barbosa. Uma perícia da PF indicou que os gastos na obra passaram de R$ 6 milhões, valor superior ao declarado.
Em setembro, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão. Na casa de Wanderlei, foram achados R$ 52 mil em um compartimento atrás de uma gaveta do banheiro. Na residência de outro suspeito, foram encontrados R$ 700 mil. O afastamento do gestor, segundo o ministro do STJ, se impôs por causa da "expressiva quantia de dinheiro em espécie apreendida no gabinete do governador" e "a atualidade da lavagem de capitais".
Wanderley Barbosa é o terceiro governador do Tocantins a ser afastado por irregularidades no mandato.
O que dizem as defesas
A defesa de Wanderlei Barbosa reafirmou que ele jamais participou de qualquer esquema ilícito. Afirmou que, na época do desvio das cestas básicas, ele era vice-governador e não ordenava despesas, e que o processo judicial "colocará fim ao que chamou de 'insinuações infundadas'".
O Partido Republicanos disse que confia que será garantido o direito a ampla defesa e que Wanderlei terá a chance de provar a própria inocência.
Karynne Sotero afirma que jamais participou dos fatos investigados, tendo atuado como primeira-dama e secretária a partir de 2023, e que não tem vínculo com o ex-marido Paulo César Lustosa desde 2017.
A defesa de Rérison Castro, filho de Wanderlei Barbosa, declarou que a pousada foi construída com recursos próprios e que não há irregularidade no projeto.
O advogado de Paulo César Lustosa disse que o empresário "sempre trabalhou dentro de um procedimento correto" e que os áudios divulgados "não têm o poder de se esclarecer o que de fato ocorreu".
Wilton Rosa Pires afirma que a conversa sobre cestas "emprestadas" foi informal e que nunca teve contratos com o estado.
A Bispa Socorro não respondeu aos contatos da produção.
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